7 de janeiro de 2013

 
Senhor, nós desejamos agradecer
Agradecer tudo o que nos deste,
tudo o que nos dás: o ar, o pão, a paz.

Gostaríamos de agradecer-te a beleza
que vislumbramos nos painéis da natureza;
agradecer-te a visão,
a felicidade de poder enxergar.
Com os olhos vemos a terra, vemos o céu, detemo-nos no mar.
Graças à misericórdia da visão, Senhor,
podemos contemplar o nosso amor.

No entanto, diante de nossa claridade visual,
há os que não têm amanhecer,
e se debatem nas trevas sem a hora matinal.
Deixa-nos, por eles, orar.
Nós sabemos que depois desta vida,
na outra vida,
eles também poderão enxergar.

Muito obrigado, Senhor, pelos ouvidos meus,
ouvidos que me foram dados por Deus
e que ouvem o tamborilar da chuva no telheiro;
a melodia do vento nos ramos do salgueiro;
as lágrimas que choram
nos olhos do mundo inteiro;
a voz melancólica do boiadeiro.

Ouvidos que escutam a melodia do povo,
que desce do morro à praça a cantar;
As melodias dos imortais
que, ouvidas, não se esquece jamais.
Pela minha faculdade de ouvir,
deixa-me pelos surdos pedir.
Eu sei que depois desta vida, na outra vida,
eles também poderão ouvir.

Muito obrigado pela minha voz.
E também pela voz que canta, pela voz que ama, que fala de ternura,
pela voz que liberta o homem da amargura.
Obrigado pela voz da comunicação,
pela voz que ensina, que ilumina,
pela voz que nos dá consolação.

Mas, diante de tanta melodia,
recordo os que padecem de afasia,
os que não podem cantar à noite,
nem falar de dia.
Deixa-me, por eles, orar.
Um dia também vão falar.

Obrigado pelas minhas mãos,
mas também pelas mãos que amam,
pelas mãos que lavram, que aram,
que trabalham, que semeiam.
Pelas mãos que colhem, que recolhem.
Pelas mãos da caridade, da solidariedade.
Pelas mãos do amor.

Pelas mãos que cuidam as feridas,
as misérias da vida.
Pelas mãos que lavram as leis,
que firmam decretos,
que escrevem poemas de amor,
que escrevem cartas, livros,
e pelas mãos da carícia.
Mas, sobretudo, pelas mãos que no seio
abrigam os filhos de corpo alheio.

E pelos pés que me levam a andar,
obrigado, Senhor, porque posso caminhar.
Diante do corpo perfeito deixa-me louvar
porque vida tenho na terra,
olhando os que jazem no leito de dor,
os paralíticos, os amputados,
aleijados, infelizes, marcados, desgraçados,
deixa-me por eles orar.
Um dia bailarão, na outra encarnação.

Obrigado, Senhor, pelo meu lar,
meu doce cantinho,
minha tapera, minha favela, meu ninho,
minha mansão, meu bangalô, meu palácio,
meu lar de amor, meu amor.
Quem pode viver sem o amor?
Seja o amor de uma mulher, de um irmão,
de um amigo, de um aperto de mão.
Até de um cão.
Quem suporta a solidão?

Mas se eu não tiver ninguém,
nem um amigo para minha mão estreitar,
nem uma cama para me deitar,
nem lar, nem mesmo lar,
deixa-me dizer-te, Senhor
que tenho a ti,
que amo a vida,
que é nobre, colorida.

Deixa-me dizer que creio em ti,
dar graças porque nasci!
Obrigado, Senhor, pela crença.
Pelo Teu amor, muito obrigado, Senhor.

(Divaldo Franco profere esta oração ao final de suas palestras)

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