Nove milhões de pessoas. O número de visitantes que o Museu do Louvre recebe a cada ano é superior à população de centenas de países, entre eles Suíça, Dinamarca e Paraguai. Não é para menos. A instituição guarda alguns dos maiores tesouros da humanidade, reunidos em um acervo de mais de 35 mil obras de arte. Como se não bastasse, o próprio edifício que abriga essa coleção é um monumento de mais de 800 anos. Sua construção começou no século XIII, quando o rei Felipe Augusto da França decidiu erguer uma fortaleza às margens do rio Sena. Ao longo dos oito séculos seguintes, o núcleo original foi reformado e ampliado diversas vezes, servindo de residência real e até de acampamento para sem-tetos antes de ser transformado em museu, no século XIX.
Na verdade,
foi só na década de 1980, quando o ex-presidente francês François
Mitterand lançou o projeto “Grand Louvre”, que as obras de arte passaram
a ocupar todo o espaço desse palácio de 135 mil metros quadrados,
situado no coração de Paris. E, apesar de imenso, o museu não para de
crescer. Em 2012 será inaugurado um segundo Louvre na cidade francesa de
Lens e está programado para 2013 o lançamento do projeto mais polêmico
da instituição nos últimos tempos: a abertura de uma filial no emirado
árabe de Abu Dhabi financiada pelos sheiks locais, que pagaram milhões
de euros pelo uso da marca. Para descobrir o segredo do sucesso
do museu e falar sobre os novos planos desse ícone da cultura mundial, o
jornalista Eric Pincas, da revista francesa #Historia#, conversou com o
diretor do museu, Henri Loyrette. Leia abaixo os principais trechos da
entrevista.
Eric Pincas – Ao longo de seus 800 anos de existência, o Louvre teve
diversas vidas. Como se faz para contar uma história tão vasta?
Henri Loyrette -
Eu diria que é mais uma mesma vida que passou por diversas
metamorfoses. O Louvre sempre foi de vanguarda. Sua história começa na
Idade Média e continua a ser escrita. Um exemplo disso é o futuro
departamento de artes do Islã, que será inaugurado em 2012. Essa
ancoragem histórica aparece com as recentes escavações arqueológicas que
revelaram as fundações medievais do edifício. Uma seção do museu mostra
as sucessivas transformações pelas quais passou o palácio, que se
estende da igreja de Saint-Germain-l\\`Auxerrois à praça de La Concorde.
Pincas – Recebendo cerca de 9 milhões de visitantes por ano, o Louvre é o museu mais visitado no mundo. Qual é o seu segredo?
Loyrette -
O projeto “Grand Louvre”, iniciado por François Mitterrand, permitiu
que espaços do palácio antes ocupados pelo Ministério das Finanças
fossem usados para reorganizar as coleções. A influência exercida pelo
museu reforçou-se com isso. Também contribuiu o esforço de renovação da
programação, que passou a atrair um público que não viria
espontaneamente ao Louvre. Organizamos cursos nos bairros carentes e
fizemos uma parceria com a prisão de La Santé e a com a penitenciária de
Poissy. O Louvre é um museu, mas também um palácio, que atravessou os
momentos mais gloriosos e mais sombrios da história de nosso país. Esse
laço constante entre a história e as coleções faz dele um lugar único.
Atualmente, o público que nos visita é formado por 40% de jovens com
menos de 26 anos, 35% de franceses e 65% de estrangeiros.
Pincas – O que orienta o projeto museográfico da instituição?
Loyrette -
A herança enciclopédica do século XVIII. É preciso ver o museu como um
livro que se consulta de acordo com a necessidade. Essa é a chave para
explorar um espaço com tamanha abundância de obras. Apostamos também na
clareza da apresentação e no material de apoio: textos explicativos em
várias línguas desde 2000, desenvolvimento do site na internet e a
disponibilização de audioguias multimídia. Nosso objetivo é fornecer
todas as ferramentas para facilitar a descoberta das coleções mais
difíceis.
Pincas – A política de aquisição de obras de arte continua ativa?
Loyrette -Mais
ativa do que nunca. Obras pouco conhecidas ou negligenciadas por várias
décadas tornam-se importantes. Por muito tempo se focalizou o eixo
Países Baixos, Flandres, França e Itália em detrimento da Espanha, do
mundo anglo-saxão ou da Escandinávia. Agora, devemos dedicar a essas
regiões uma atenção renovada.
Pincas – Quem são os trabalhadores que atuam nos bastidores?
Loyrette -Os
pintores, douradores, tapeceiros, produtores ou reparadores de molduras
etc. Todos esses artesãos fazem a riqueza do Louvre. Eles participam da
vida de nossa instituição com uma filosofia da transmissão de seus
conhecimentos e habilidades por meio de um sistema de aprendizagem. No
total, essa "colmeia" reúne 2838 pessoas. Dessas, 1902 trabalham no
próprio museu (127 cientistas, 359 técnicos, 725 pessoas dedicadas ao
desenvolvimento do público, 691 funcionários administrativos).
Pincas – Atualmente qual é o departamento do museu que faz mais sucesso?
Loyrette -O
público aprecia particularmente as pinturas italianas e o departamento
egípcio. Nossa dificuldade está em regular a circulação do público, pois
sabemos que 80% de nossos visitantes vêm admirar a #Mona Lisa#. A
pintura francesa ou as escolas do norte da Europa fazem menos sucesso.
Com 35 mil obras expostas, o Louvre é um viveiro inesgotável de
descobertas.
Pincas – A questão da devolução do patrimônio a
seus países de origem está em debate. Quais são as nações que mais
reivindicam peças do acervo do Louvre?
Loyrette -Até
hoje recebemos apenas um pedido oficial de restituição. Estava
fundamentado e foi acolhido. Nós devolvemos ao Egito os afrescos do
príncipe Retiki, que nos foram vendidos por alguém que os adquirira
ilegalmente. Na maior parte dos casos, nos vemos diante de questões de
opinião ou de ações midiáticas, sem que haja de fato reclamações
oficiais formuladas pelas autoridades interessadas. Nossa política
baseia-se na convenção da Unesco de 1970, ratificada pela França em
1997. O ônus da prova recai sobre o país que faz o pedido, sabendo-se
que não existe retroatividade além de 1998.
Pincas - Quais são os principais projetos do museu para os próximos anos?
Loyrette -2012
será um ano rico, com a inauguração do departamento de artes do Islã e
do Louvre de Lens. Em 2013, será a vez de o Louvre de Abu Dabi abrir
suas portas. Mais adiante, prevemos a criação de um departamento
dedicado às artes bizantinas e eslavas. Por fim, temos os projetos de
educação artística, dos quais dependem o sucesso e a vida do Louvre de
amanhã.
Loyrette: o que orienta nosso projeto museográfico é a herança enciclopédica do século XVIII.
O Louvre hoje: 35 mil obras de arte espalhadas por um palácio de 135 mil metros quadrados no coração de Paris.
Congestionamento: a cada ano a instituição recebe cerca de 9 milhões de
visitantes, contingente humano maior que a população de centenas de
países.
Por: História Viva.
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