Maryneves Saraiva de Arêa Leão Costa
(Maryneves
Saraiva de Arêa Leão Costa
Historiadora,
Professora da UFPI,
Acadêmica da
ALLCHE, Formação em Biopsicologia e
(Facilitadora da
Oficina Corpo Mente e Emoção.)
Da pequenina Cidade que compõe a região
norte do Estado do Piauí, Cidade que se destacou no tempo pelas vastas fazendas
de gado, sendo que um dos proprietários em 1838 mandou construir uma Capela
dedicada a Nossa Senhora dos Humildes, falo de Alto-Longá, também conhecida
como a terra do rio longa, rio gameleira, dos canudos, do Frei Pedro, do
Canabrava, do mulato e da campeira, a 80 km da Capital. Terra berço de Walmira
Humildes Campos Saraiva. A minha proposta neste artigo, é articular fragmentos da sua vida e tentar fazer uma conexão com uma postura de fé.
Falo neste artigo de Walmira Humildes
Campos Saraiva, filha do comerciante e também homem público, Cantídio Saraiva
de Siqueira e Maria Humildes Campos Saraiva, ela, nascida em 19 de agosto de
1930 na Cidade de Alto-Longá, a época Distrito Judiciário da Comarca de Altos –
Piauí. Do seu registro de nascimento colhia as seguintes informações: registrada, por João Batista Loureiro,
Oficial do Registro Civil da referida Cidade, registrada por seu Pai, o Coronel Cantídio Saraiva de Siqueira,
acompanhado das testemunhas Antonio da Mata Oliveira e Lucio Pereira Sena. Seus
avós paternos Capitão Silvestre Saraiva de Siqueira e Raimunda Rosa da Silva, da
linhagem materna, Capitão Raimundo Campos de Moraes Condurú, e Jovina de Moraes
Campos.
Dos fatos que mais marcaram sua vida
podemos destacar em 1938 o falecimento do
seu pai quando ainda muito criança, e que tanta falta lhe fez. Cresceu
acompanhada do carinho e orientação segura de sua mãe, carinhosamente conhecida
na cidade como Marica Saraiva. Dos
desafios a serem enfrentados, como continuar os seus estudos? Como mãe
abnegada, Marica Saraiva busca a Capital do Estado, Teresina, o Colégio da Irmãs e o apoio dos tios, dentre
eles: Maria Guadalupe e Abdoral. Neste convívio surgiram o fortalecimento dos
vínculos familiares da menina jovem com as primas Marlene, Tereza, Lurdinha,
Antonio Carlos, Auridéia, José Moacir e Nailda.
A menina cresce e com ela o desejo de ascender intelectualmente e
profissionalmente. Das suas anotações retirei pérolas espirituais quando ainda
estava com 16 anos, pois os registros são de 1946, a época estudante do Ginásio
Sagrado Coração de Jesus 4ª série. Vejamos o que encontrei: orações contidas em
sua caderneta escolar, dentre elas:
Oração ao Anjo da Guarda: “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti
me confiou à piedade Divina, sempre me rege e me guarde, governa e ilumina.
Amém.” Oração ao Espírito Santo: “Ó Espirito Santo, espírito de Amor e de
Verdade, autor da santificação das nossas almas, eu vós adoro como princípio de
minha felicidade eterna...”, À Santa Teresinha do menino Jesus: Ó Santa
Teresinha do Menino Jesus, branca e mimosa flor de Jesus e Maria que embalsamastes
o Carmelo e o mundo inteiro com o vosso suave perfeume... “Fazei-nos simples e
dóceis, humildes e confiantes para com o nosso Pai do Céu...”
Ainda deste precioso documento encontrei o registro do poema ‘Orgulhosa’ de
Gonçalves Dias. Cresci escutando os seus versos através de sua voz firme. E
relembro trechos: “Deixa-te disso criança, deixa de orgulho e sossega, olha que
o mundo é um oceano onde o acaso navega, hoje sustentas nas salas as tuas
pomposas galas, os teus brasões de rainha, amanhã talvez quem sabe, esse teu
orgulho se acabe, seja-te a sorte mesquinha...”
Possuía como metodologia de aprendizagem
própria um convívio muito direto com o dicionário. Encontrei em suas anotações
palavras e palavras, e seus respectivos significados. Aqui faço alguns registros
do que encontrei: “Solícito: cuidadoso, ativo, inquieto e delicado. Eloqüência:
a arte de bem falar. Relíquias: antiguidade. Dadivoso: amigo de dar. Avante:
triunfante jubiloso. Impávido: destemido, que não tem pavor. Dentre tantas
outras.
Da
sua juventude em Teresina é comum os
depoimentos destacando sua beleza, bondade, talento, dedicação, amizade e fé. Ainda hoje escuto narrativas dos que a
conheceram na sua fase juvenil, adulta e na
madureza.
Da juventude no colégio das Irmãs, o
convívio da família de Maria Guadalupe e Abdoral, e filhos, com os tios
Siqueira e Cynobilina Sampaio Siqueira, os pais de Aldenora e Floriza. A
residência de Siqueira e Cynobilina marcam registros de acolhimento, amizade, respeito
e admiração das partes. Moravam a Rua Coelho Rodrigues Nº 1203 no centro da
Cidade em frente ao antigo palácio dos móveis, hoje, Pintos Magazine. Referencia
de apoio e hospedagem a Walmira, Esposo e filhos quando ainda não possuíam
residência fixa na Capital.
Quando em 02 de fevereiro de 1966
faleceu em Teresina a Senhora Cynobilina Sampaio de Siqueira, Walmira
encaminhou uma mensagem que encontrei nas suas anotações de profundo afeto e
gratidão referenciando Cynobilina ela assim narra: “Desde cedo me acostumei, a
ter-lhe respeito, admiração e estima... Toda a sua vida de esposa e mãe foi um
exemplo vivo de dedicação e desvelo. O lar constituía o centro de sua vida,
pois nele estava o seu grande tesouro: o esposo e as suas duas filhas, a quem
soube proporcionar um ambiente sempre sadio e agradável...”. Falava ela das
virtudes de Cynobilina.
Seguindo por esse mesmo caminho Walmira
também foi um exemplo vivo de esposa dedicada, mãe desvelada, funcionaria
pública com um empenho inigualável, mulher pública com um jeito próprio de
administrar combinada energia com a amorosidade, dedicada a vida religiosa de
prática Católica, porém aberta ao diálogo com religiosos de todas as
denominações, fundadora com um grupo de senhora da congregação da Doutrina
Social Cristã de Nossa Senhora dos Humildes, compositora do Hino da
Congregação, do Hino de Nossa Senhora dos Humildes, de canções dedicadas a
Maria, a mãe de Jesus.
Mulher pública anfitriã dos pequenos, grandes
eventos da cidade, dentre tantos destacamos a recepção ao Acerbisbo Dom Avelar
Brandão Vilela, e toda a sua comitiva recepcionados em sua residência. Para o
Evento compôs canções que foram cantadas por um coro de crianças saudando o
Acerbisbo. A visita a cidade era em uma data festiva e marcante para o
município, pois daquela data surgia o ginásio da CENEC Ginásio Rodrigues de
Alencar, solicitação feita por uma jovem, cujo discurso foi elaborado pela
senhora Walmira Saraiva, pronunciado por uma jovem da cidade, acolhido
prontamente pelo Acerbisbo Dom Avelar. Segue trechos da canção dedicada à visita
de Dom Avelar: “Dom Avelar bondoso guia, da Santa Igreja sois bom pastor...”.
Da congregação da Doutrina Social
Cristã, fundadora e integrante até os últimos dias de sua existência na terra
com o grupo de mulheres conterrâneas que aqui destacamos: Walmira Campos, Maria
dos Humildes, Francisca Rosa, Consuelo Ibiapina, Iva Costa, Araci Oliveira, Dora
Cabral, Lucilia Arêa Leão, Chaga Duarte, Adalgisa Campos, Osima Bacelar, Sônia
Oliveira, Augusta Melquides, Nazaré Pereira, dentre tantas outras. O trabalho
continua.
Na cidade a sua memória de mulher, de
mãe e de cidadã, tem registros na vida da cidade, são inúmeros os afilhados, os
compadres, comadres, amigos, os familiares, que lembram com muito carinho e
gratidão o significado desta mulher de fé para a vida da sua família, dos
familiares, dos amigos e da cidade.
Uma vida vivida de forma autêntica deve
ser sempre lembrada para que gerações futuras possam qualificá-la, valorizá-la,
reconhecê-la e agradecer aos que se empenharam em dar o melhor de si para o bem
coletivo.
É comum ouvir que somos seres
substituíveis, o que em parte concordo, porém na História da humanidade, ninguém
ainda conseguiu substituir Cristo, Ghandi, Madre Tereza, Irmã Dulce, Chico
Xavier, exemplos de homens e mulheres que transcenderam à sua época, ao seu
tempo. Exemplos de pessoas que tiveram uma existência autêntica e marcante.
Em particular, guardo com muito carinho e
gratidão as suas palavras e orientações seguras marcadas pela fé e a confiança
em Deus, no valor da amizade sincera, da união, do respeito, do reconhecimento,
do valor do outro e o profundo espírito de solidariedade humana que a
comunidade Longaense é testemunha.
No depoimento de uma de suas netas Ticiana
Arêa Leão diz “A minha avó Walmira foi e é um grande referencial para mim,
sinto um verdadeiro marco quando da sua partida para o plano espiritual, nossa
família sentiu e sente até hoje a sua ausência, ainda que seus ensinamentos
sejam vivenciados, a sua ausência entre nós é sentida e dolorida, ela tinha
como ninguém a capacidade de convergir os filhos, de amparar e alegrar os
netos, de unir os familiares, de acalentar um necessitado e de sutilmente nos
mostrar o caminho certo e nos manter firmes e unidos. Rogo a Deus que seus
ensinamentos sejam sempre presentes e nos mantenham no caminho da fé e da
união.
Todo carinho, amizade, dedicação, amor
incondicional a família e ao próximo, dedicação desvelada aos festejos de Nossa
Senhora dos Humildes e a noite dos Vaqueiros, por sua sensibilidade e lições de
vida a nossa eterna gratidão.
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