Quem
compra um remédio pode achar que só a fórmula do medicamento é que age. Falta
um ingrediente essencial nisso: o poder da sua cabeça.
Texto de: Giovana Girardi.
Taí
uma situação que vira e mexe deixa muito médico coçando a cabeça. Ao longo de
anos de experiência clínica, não é difícil se deparar com histórias de
pacientes que apresentam uma melhora acima da esperada ou até mesmo a reversão
de um quadro que parecia sem solução. Milagre? Pouco provável. Apesar de ter
tudo a ver com crenças. E não importa se a fé é em Deus ou na medicina. O fato
de acreditar na cura é, em linhas gerais, o tal poder da mente – mais conhecido
entre cientistas como efeito placebo.
Os
placebos são muito usados em testes clínicos de novas drogas. Para determinar
se uma determinada substância é eficiente, ela é comparada com uma inócua,
quimicamente inativa. Assim, num estudo às cegas, metade de um grupo toma
pílulas com o novo medicamento e a outra metade, pílulas de farinha. Em teoria,
estes indivíduos não deveriam sentir nenhum benefício, mas na prática não é o
que ocorre. Em média, cerca de 30% dos participantes que tomam placebo sentem
alguma melhoria em sua situação.
RENASCENÇA PLACÉBICA:
Desacreditado
como mera sugestão do paciente e até ignorado por várias décadas, o efeito
ganhou a atenção da ciência no início deste século, quando várias pesquisas
começaram a mostrar que ele é realmente efetivo. E não somente nos testes
clínicos. Ao “botar fé” que o tratamento recebido vai funcionar, o paciente
desencadeia uma série de reações em seu corpo capazes de minimizar dores e
melhorar a resposta do sistema imunológico (o exército de defesa do organismo).
Os
mecanismos fisiológicos por trás desses resultados ainda não são bem
compreendidos, mas alguns trabalhos já lançaram algumas pistas. Um estudo da
Universidade de Wisconsin, divulgado em 2004, observou que pacientes mais
otimistas quanto ao seu tratamento tendem a apresentar níveis mais baixos de
cortisol, hormônio liberado em situação de estresse e que, em altas doses, pode
inibir o funcionamento das defesas do organismo.
Outros
estudos apontam que a expectativa de se sentir melhor aumenta no cérebro a
liberação de dopamina, neurotransmissor associado ao prazer e à sensação de
bem-estar. No ano passado, um grupo da Universidade de Michigan mostrou, em
artigo na revista científica Neuron, que quanto maior era a confiança de um
paciente nos benefícios de um suposto medicamento que ele estava tomando, maior
era a liberação de dopamina.
A
equipe, liderada por David Scott, observou por meio de imagens de ressonância
magnética a ativação de uma região conhecida como núcleo acumbente. Ela faz
parte do sistema de recompensa do cérebro, que reage diante de prazeres
provocados por alimentos, bebidas, drogas, jogos, amor, dinheiro etc. Simulando
o teste de um novo medicamento, os cientistas ofereceram a um grupo de
voluntários somente pílulas de farinha.
Em seguida, pediram que os participantes
avaliassem quão grande era a expectativa deles sobre os efeitos do “remédio”,
assim como o alívio da dor sentido após a ingestão da suposta droga inovadora.
Os núcleos acumbentes dos mais confiantes foram os que mais se ativaram. E
esses pacientes foram os que relataram menos dor após a ingestão do comprimido.
Em
geral, essas e outras pesquisas apontam para a capacidade do organismo de
combater doenças. A crença na melhora já se mostrou efetiva contra dores em
geral, doenças ligadas ao estresse, alguns distúrbios psicológicos (como
depressões leves) e até mesmo asma, artrite ou impotência. É o cérebro ajudando
a si mesmo.
Efeito
nocebo é o nome dado à versão do mal do efeito placebo: o remédio faz mal se a
pessoa acreditar nisso.
Matéria publicada pela Revista Superinteressante.
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